guilermo deisler
AMOR
Amor, então,
também, acaba?
Não, que eu saiba.
O que eu sei
é que se transforma numa matéria prima
que a vida se encarrega
de transformar em raiva
Ou em rima
Paulo Leminski
http://almadepoeta.com/fulinaima.htm
guilermo deisler
AMOR
Amor, então,
também, acaba?
Não, que eu saiba.
O que eu sei
é que se transforma numa matéria prima
que a vida se encarrega
de transformar em raiva
Ou em rima
Paulo Leminski
http://almadepoeta.com/fulinaima.htm
guilermo deisler
OLHAR
eu
quando olho nos ollhos
sei quando uma pessoa
está por dentro
ou está por fora
quem está por fora
não segura
um olhar que demora
de dentro de meu centro
este poema me olha
Paulo Leminski
Memorabilia
Guardam-se em memorandos os quês,
os quens, os quandos.
Entre flashes perdidos no tempo,
desenha-se incerto esboço:
sonhos, sombras, rostos, nomes, toques, gostos.
Recriam-se as cenas, os planos-seqüência.
Carrega-se nas tintas, apagam-se alguns traços,
ganham vida personagens.
Vestem-se as imagens,
engendrando gestos possíveis da engrenagem.
Congelam-se momentos
e se auscultam cérebro, coração e células.
Abre-se o foco ao máximo
e se deixa ir o pensamento em liberdade pela página,
pela mão, por improváveis cenários,
até alçar vôo nas asas do imaginário.
Consultam-se agendas antigas,
velhos álbuns de retratos,
cartas extraviadas, vídeos,
vestígios velados nos desvãos do esquecimento.
Revela-se, quadro a quadro,
o abismo entre memória e passado.
Cairo Trindade
artur gomes e césar castro - foto: oscar wagner
Vermmer Além da Alma –
Variações sobre o mesmo Tema
César Castro – TransPirações Gráficas
Artur Gomes – Poemas
se for pecado desejar-te tanto
então que me perdoe ou me proíba
de te roubar-te um beijo
ou querer-te assim como desejo
menina dos brincos de ouro mayara ou beatriz
a pele em flor simplesmente nua
do mar ao sol somente a luz da lua
abertas as portas entradas e janelas
sentidos poros em tudo quanto velas
quem sabe Dante renascido no meu canto
quem sabe quanto as escondidas me deseja
de corpo e alma onde tudo em ti lateja
e quer meu sangue quente no teu sangue
retesado corpo em pêlo no teu corpo
onde as marés espraiam
e os deuses nos espreitam
amantes pela praias
como nós seres humanos
também tornados deuses
sem pudores quando amamos
http://almadepoeta.com/fulinaima.htm
De 22/11 a 20/12 – Galeria - Sesc Campos
Realização: Sesc Rio de Janeiro
profanalha
nu rio
a flecha de são sebastião
como ogum de pênis/faca
perfura o corpo da glória
das entranhas ao coração
do catete ao largo do machado
onde aqui afora me ardo
como bardo no caos urbano
na velha aldeia carioca
sem uma palavra bíblica
e
muito menos avária
:orgasmo é falo no centro
lá dentro
da candelária
http://almadepoeta.com/fulinaima.htm
obra premiada no xvi salão de artes de bento gonçalves-rs
Oração para todos os santos e canalhas
Procissão das cobras santas benditas
Arrastam-se nas noites iluminadas por velas
O cheiro do breu invade as narinas casas
De corpos habitados de medos.
A cada esquina um crucificado
A cada curva um corpo que sangra
Um cristal uma catedral
As estampas dos santos em vermelho
Tecidos dos vestidos de vestir cidade,
São trapos embandeirados em filas
E preces de todos os dias.
Cada mulher um crucifixo
Penetrando o útero como um falo
Cada homem a carcaça apodrecida
Exposta em mercado público
A cada domingo e dia santo
Coros de orações por todos os não santos
MARKO ANDRADE
http://almadepoeta.com/fulinaima.htm
O Duplo
Debaixo de minha mesa
tem sempre um cão faminto
-que me alimenta a tristeza.
Debaixo de minha cama
tem sempre um fantasma vivo
-que perturba quem me ama.
Debaixo de minha pele
alguém me olha esquisito
-pensando que eu sou ele.
Debaixo de minha escrita
há sangue em lugar de tinta
-e alguém calado que grita.
vermmer além da alma - césar castro: transpirações gráficas
Não é o boi
que me atrai.
É o pasto
ora seco
ora esverdeado.
Entre raízes
do Mato Grosso.
E o cantar da carroça,
figura plantada
em seu couro.
Pernoitando no Pantanal
a ânsia de viver.
Magaly
chris herrman e artur gomes em bento gonçalves-rs - xiv congresso brasieliro de poesia
Haikai em Bento...
Viemos pelo vento,
Bento, vinho e poesia;
Vinhedo assedia.
Letras Pitangueiras,
liberdade sem esquema;
Nascente-Poema.
Poetas se encontram,
palavras em sinergia;
Luz-noite, luz-dia..
Christina Magalhães Herrmann
http://www.recantodasletras.com.br/haikais/268794
Existe a noite, e existe o breu.
Noite é o velado coração de Deus
Esse que por pudor não mais procuro.
Breu é quando tu te afastas ou dizes
Que viajas, e um sol de gelo
Petrifica-me a cara e desobriga-me
De fidelidade e de conjura. O desejo
Este da carne, a mim não me faz medo.
Assim como me veio, também não me avassala.
Sabes por quê? Lutei com Aquele.
E dele também não fui lacraia.
vermmer além da alma - césar castro: transpirações gráficas
Desejos vãos
Eu queria ser o Mar de altivo porte
Que ri e canta, a vastidão imensa!
Eu queria ser a Pedra que não pensa,
A pedra do caminho, rude e forte!
Eu queria ser o sol, a luz intensa
O bem do que é humilde e não tem sorte!
Eu queria ser a árvore tosca e densa
Que ri do mundo vão é ate da morte!
Mas o mar também chora de tristeza...
As árvores também, como quem reza,
Abrem, aos céus, os braços, como um crente!
E o sol altivo e forte, ao fim de um dia,
Tem lágrimas de sangue na agonia!
E as pedras... essas... pisá-as toda a gente!...